Por Rafael Barbosa dos Santos
CLUBE DO DIVINO – INT/NOITE.
Noite animada no divino. O clube lotado, toda a turma reunida. Em uma mesa está Tufão com toda sua família. Carminha com cara de tacho.
Tufão – que foi meu amor, que carinha é essa.
Muricy – O show já vai começar Carminha.
Ivana – Dizem que essa cantora manda muito bem.
Carminha – Ai não sei não gente, não to nada animada, ainda acho que é um desperdício agente gastar dinheiro com um show desses, se fosse sei lá, uma Ivete Sangalo, ou uma Joelma, mais, por favor, Chayene, uma artistazinha decadente, pra mim compensava mais gastar o dinheiro dos ingressos com aquela doação que te falei lá pro centro dos meninos e meninas abandonados, tadinhos Tufão, um bando de remelento passando fome, com direito a barriga D’água e tudo Tufão (finge emoção), só de lembrar da até vontade de chorar.
Tufão – Fica assim não meu amor, não vai chorar aqui agora.
Muricy – A Carminha, tá uma noite tão bonita, vamos parar com esse baixo astral.
Max – Vocês não conhecem a Carminha gente, não sabem o quanto ela é generosa, sensível (irônico)
Carminha – Desculpa gente, eu não quero estragar a noite de vocês, é que eu sou uma manteiga derretida, vocês sabem .
Tufão – Você essa sua mania de querer ajudar todo mundo né Carminha, eu vou te falar uma coisa, (pra todos) mais essa minha mulher é boa demais, nossa Carminha mais você tem um coração enorme, olha eu tenho muito orgulho de ser seu marido.
Carminha – O meu amor, você vai me dar o dinheiro então pra eu poder doar lá pras criancinhas, tadinhas?
Tufão – Claro que eu vou, amanha te faço um cheque, te dou na sua mão, pra tu poder ajudar lá os moleques, dois mil reais, pode ser?
Carminha – (Reclama) Só dois mil reais Tufão? (retoma anterior) quer dizer, há acho pouco amor, a coisa ta feia, os menino precisam de tudo tadinhos, comida, remédio, roupa, tão comendo até o reboco da parede lá do predinho onde fica a instituição que por sinal também precisa de uma reforma, já pensou.
Muricy – Nossa gente, que tristeza.
Ivana – Ai agora quem ta emocionada sou eu.
Carminha – Uns dez mil né Tufão, isso não é nada pra você, e é por uma boa causa, Deus (aponta pra cima) Tá vendo tudo lá de cima.
Tufão – Você tá certa, certíssima, pra que é que eu vou economizar né, se é pra ajudar as criancinhas, tudo bem te dou os dez mil.
Carminha – Ai meu amor, brigada, muito obrigada, você é o marido mais perfeito desse mundo, você não sabe o quanto você ta ajudando aquelas pobres crianças.
Ela beija e abraça o marido, pelas costas dele Pisca para Max sem que ninguém veja. Diógenes vem se aproximando da mesa.
Leleco – E aí Diógenes, esse show começa ou não começa?
Diógenes – Já vai começar mais antes a Chayene gostaria muito de falar com você Carminha, ela diz que quer muito conhecer a mulher do Tufão, a primeira dama do divino.
Ivana – Olha só ta com moral Carminha.
Muricy – Quem diria conquistando até artista.
Carminha – Que será que essa mulher quer comigo gente,
Tufão – Vai lá pra tu saber ué.
Carminha – É melhor eu ir lá mesmo, né, com licença.
Carminha acompanha Diógenes.
Corta para:
CLUBE DO DIVINO. CAMARIM – INT/NOITE
Chayene está no seu camarim, com seu figurino extravagante como de costume, acompanhada de Laércio.
Chayene – Espie só Laércio, olha só a comida que esse povo do divino quer me servi pra cumê, salgadinho de festinha de criança, (pega) bolinha de queijo chupado de gordura, quanta miséria, nem nos tempos de leite de cobra meu camarim era tão chinfrim assim.
Laércio – Você não pode reclamar Chayzinha.
Chayene – É, tu ta certo, quem diria, eu Chayene fazendo uma pontinha no horário nobre, to adorando, me sentindo a legitima viúva Porcina, só que muito mais jovem, muito mais bonita e talentosa.
Laércio – Também não é pra tanto.
Chayene – Cansei de me dá mal, aqui nessa novela pelo menos eu sinto que gente como eu costuma se da bem, to tão animada que vou até cantar um Oi Oi Oi/ (canta)
Neste momento Carminha entra.
Carminha - Com licença!
Chayene – É ela Laércio, a malvada, a Tancinha.
Laércio – É Carminha Chayzinha.
Carminha – Você disse que queria falar comigo?
Chayene – É queria ter um dedinho de prosa com tu, eu queria assim, umas dicas pra dar um jeito em umas três curicas sabe, a égua a ariranha e a potra, eu sei bem que tu é muito da terrível, que acha assim de ser minha personal jagunça, em claudinha?
Carminha – Desculpe queridinha (faz pouco caso) mais eu não sou veterinária, nem nasci na roça, pra entender de égua, potra e coisas do tipo.
Chayene cai na risada.
Chayene – Aí, veja só Laércio, como ela é engraçadinha, gostei dela, (para Carminha) escute só amadinha, tu não entendeste direito, eu to falando é de três traíras, umas lavadeira aí que decidiram me derrubar, largaram a vassoura pra pegar no microfone, agora me fale, pode uma coisa dessas.
Carminha – E o que é que eu tenho a ver com isso, isso é problema seu minha filha, vem cá que espécie de vilã é você hein?
Chayene – Olhe só, a lorinha tá se achando a Nazaré, fique sabendo que eu também sei fazer umas maldadezinha visse.
Carminha – Posso imaginar, jogar sopa em empregada, (ri), há, por favor, devia era ser vilã de desenho animado, tu é muito amadora, tem muito que aprender.
Chayene – Oxi e tu é o que em, só porque caso com o jogadô barrigudinho pra dar o golpe do baú, acha que é grandes coisa.
Laércio – Chayene é melhor parar por aqui.
Carminha – Aqui não é seu lugar, horário nobre é coisa pra profissional, no caso eu.
Chayene – Alá, e o que é que a Telminha fez de mais, pá se achar assim a bandidona?
Carminha – Quer mesmo saber, lá vai, joguei a peste da minha enteada no lixão depois de ter roubado o corno do pai dela, casei com o jogador Tufão e hoje ele é louquinho por mim, o corno come na minha mão, fiz ele criar meu filho como se fosse adotado, filho esse que eu mesma joguei no lixão, ainda fingi que tinha sido seqüestrada, tenho um amante gostoso dentro da minha própria casa casado com o bujão da minha cunhada, e todo mundo ainda acha que eu sou santa, quer mais?
Reação de Chayene.
Carminha - Eu sou ou não sou uma boa vilã?
Chayene – Eita lasqueira, me senti pequenininha agora Laércio, mais isso aí só pode ter parte com o catimbozeiro, joga o bacuri que nasceu do próprio Bucho no lixo, (T) Sangue de Jesus que tem poder, tu é má mesmo tua curica.
Carminha – Eu não sou má querida, (ri) eu sou terrível, e você é uma piada, uma cantora decadente, que mais parece uma árvore de natal ambulante.
Chayene – Epa que meu brilho é de nascença, tu me respeite, porque agora eu sei de tudo que tu aprontaste com toda essa gentalha.
Carminha – O Brasil inteiro sabe sua anta, só quem não pode saber é o Tufão a corja da família dele, e o resto dos personagens, portanto dá o fora daqui, que aqui não é o seu lugar, que é que é em, chega aqui querendo cantar de galo no meu terreiro, (T) a malvada dessa historia sou eu, aqui não tem pra ninguém, volta lá pra sua historinha de comedia, pra suas picuinha com as empregadinhas.
Chayene – Mais e meu show?
Chayene – Não têm mais show jumenta, eu invento uma baboseira e todo mundo acredita, agora vaza que eu não to agüentando mais esse seu sotaque, mais vaza rápido, porque se não você pode acabar se dando mal e a novela das sete vai ficar sem vilã, mesmo sendo uma palhaça que nem você.
Chayene se agarra a Laércio, e treme de medo.
Chayene – Vixe Maria, ela ta me ameaçando.
Carminha – Só estou de alertando, de repente, seu jatinho cai, ou você escorrega num palco da vida, ou eu posso acusar você de ter me agredido aqui agora, todo mundo vai acreditar em mim, até eu, posso até começar a chorar aqui.
Chayene – (apavorada) Não, tu pare por aí, (T) não vai ter mais show nenhum nesse divino, vamo si embora Laércio, que isso aqui é demais pra mim, isso aqui é barra pesada.
Laércio – Eu te avisei Chayzinha, que isso aqui era sinistro.
Chayene – Vamo volta pro Casagrande, pra minha novelinha, prefiro ser cheia de charme e ser amada, do que ser emdiabrada feito essa aí.
Carminha – Isso vai mesmo.
Chayene e Laércio vão saindo, morrendo de medo, ainda agarradinhos.
Carminha – Buu... (assusta os dois)
Chayene – Socorro...
Chayene e Laércio saem correndo, apavorados. Carminha fica a sorrir.
Carminha – Alegoria de carnaval, jumenta do Piauí, pelo menos dei umas boas risadas, (...) é Carminha, quem nasceu pra vilã das sete, jamais chega a horário nobre, em matéria de maldade tu é fera.
Diógenes entra nesse momento.
Diógenes – Ué cadê a cantora, o pessoal ta doidinho, reclamando da demora.
Carminha (muda a expressão) Diógenes, ela foi embora.
Diógenes – Como foi embora?
Carminha – Ai Diógenes, a mulher é uma doida varrida, decidiu sem mais nem menos que não ia mais cantar e foi embora, disse que tava indisposta, falta de profissionalismo, a criatura é uma mal educada, deselegante, esses artistas você sabe como é né Diógenes.
Diógenes – Mais e agora, como é que vou explicar pra essa gente que não vai ter mais show.
Carminha – Deixa comigo, eu dou um jeito, o meu jeitinho.
Fecha em Carminha, que planeja algo.
Corta para:
AVENIDA QUALQUER. CARRO – INT/EXT/NOITE.
Chayene – Vixe Maria vou ter pesadelo com aquela diaba.
Laércio – Fica calma Chayzinha, agente vai voltar pro nosso cantinho, e vai ficar tudo bem.
Chayene – E se ela resolve aparecer Laércio, fazer algo contra minha pessoa, já pensou acordar um dia no lixo (apavorada), Laércio vou ter que adimiti, to me borrando de medo.
Laércio – Calma Chayzinha, (sente um cheiro estranho) que cheiro é esse, cheiro não, fedo.
Chayene – (sem graça), Pé na Tabua seu motorista, que a coisa aqui tá feia, to me borrando de medo de Talminha, literalmente, como diria Amparo, corra que já ta na portinha, ande desgraçado.
Carro segue em alta velocidade.
Corta para
CLUBE DO DIVINO – INT/NOITE.
Carminha no palco faz um pronunciamento.
Carminha – Então meus queridos, pensem bem, vocês estarão ajudando um bando de criancinhas, que passam fome, que não tem o que vestir, eu e Tufão já vamos doar uma boa quantia, agora pensem, se agente pegar o dinheiro que vocês usaram pra pagar o ingresso dessa cantora que não tem um pingo de respeito pelo seu público, pra ajudar as pobres criancinhas, pensem no bem que vão estar fazendo (...) Então os pobrezinhos podem contar com a nossa ajuda?
Todo mundo concorda, barulheira.
Leleco – Uma salva de palmas pra Carminha, minha norinha.
Carminha – (vibra disfarçadamente) Obrigada, podem ter certeza vocês vão estar fazendo um bem danado, agora vamos fazer uma oração, pedir para que Deus ilumine essas crianças, vamos lá dêem as mãos, e vamos rezar, fechem os olhos, vamos lá, uma corrente do bem, isso, todo mundo junto, senhor meu Deus, senhor meu pai...
Todos rezam, de olhos fechados. Carminha abre os olhos, sorri para Max, que também está de olhos abertos.
Carminha – (baixinho) Ai, já posso sentir o cheirinho da grana que vai chover na minha mão, ponto pra mim, (fecha os olhos), vamos lá gente, mais vibração, não para não...
Oração continua. Carminha fecha no cinza.
FIM.
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