Por Rafael
Barbosa dos Santos
Salve
Jorge caminha para sua metade, mas até agora não foi capaz de fisgar o grande
público. Já é considerada uma das piores audiências do horário, embora os
índices venham subindo gradativamente nos últimos dias. Ainda que a audiência
esteja aumentando, a maior parte do público ainda não se deixou envolver pelo
drama das duas moças que são traficadas para fora, sendo submetidas a se
prostituir. E com isso a trama é rejeitada. Mas afinal, qual de fato será o
problema de Salve Jorge?
A
novela de Glória Perez já era mal vista antes de sua estréia. Primeiro pela
diferença abissal com sua antecessora, o fenômeno “Cult” Avenida Brasil.
Segundo, pelas informações que se tinham sobre a novela, que não eram nada animadoras:
um elenco exageradamente populoso, uma atriz protagonista pouco conhecida, e os
vícios de roteiro de Glória Perez. Já nas chamadas, a trama apresentava uma
estética não muito favorável (se comparada com Avenida Brasil), e um tema
musical enjoativo, o famigerado “Esse cara sou eu” na voz de Roberto Carlos.
A
nova novela estréia, e a má recepção não foi nenhuma surpresa. Os “viúvos” de
Avenida Brasil, claro, detestaram a nova trama. Salve Jorge se opôs totalmente
ao que Avenida Brasil apresentou. Abriu mão de qualquer inovação no gênero, e
apostou numa linha mais tradicional, com uma direção comum e pouco ousada.
Ainda assim, foi possível se surpreender positivamente com a estréia: uma cena
inicial interessante, o bom desempenho de Nanda Costa como protagonista, uma
linda abertura, e a curiosidade em torno do tema sobre Tráfico humano, que a
novela se propunha á discutir. Um tema jamais abordado na teledramaturgia
brasileira. Porém, não demorou muito para as inúmeras deficiências de Salve
Jorge começarem á aparecer.
Excesso
de personagens avulsos e sem função, tramas aleatórias e nada interessantes, o
casal protagonista sem química, o mau desempenho de Cláudia Raia como vilã, as
repetições e o ritmo arrastado. Tudo isso aliado á uma direção equivocada e pouco
eficaz. Esses são os defeitos apontados pela maioria, mas, além disso, é
possível analisar outros fatores que fazem da trama um fracasso.
Primeiro,
o assunto “Tráfico Humano”, que apesar de ser interessante e um importante
alerta, não tem fôlego para segurar uma novela que tem de 180 á mais de 200
capítulos. Isso fica evidente no desenrolar da trama. A protagonista demorou
cerca de 30 capítulos para ser traficada. Quando finalmente foi (em um bom
momento), a trama passa a girar em torno de suas constantes e frustradas
tentativas de fuga. E agora que as traficadas têm inúmeras chances de
denunciar, nada revelam, pois caso contrário, a novela acaba.
Segundo,
o assunto em questão é completamente desconhecido do grande público. A maioria
das pessoas nunca ouviu falar de tráfico humano, até mesmo pessoas esclarecidas
que chegam á duvidar da existência deste tipo de crime. Isso faz com que essas
quadrilhas sejam invisíveis e ajam livremente. De fato, existem casos de
mulheres, já libertadas á anos, mas que até hoje nunca tiveram á coragem de
denunciar por MEDO. Talvez essa “ignorância do público” em relação ao assunto,
faz com que a trama se torne pouco atraente, porque não conseguem acreditar
nela, e consideram absurdas essas situações. Por exemplo, ninguém se conforma
de Morena e Jéssica não abrir o bico e denunciar, mas isso é o que ocorre com
as vítimas do tráfico na vida real.
Por
último, a forte resistência que a novela enfrenta, principalmente nas redes
sociais, em especial o twitter. A trama já foi aguardada sobre críticas, foi
mal recebida. E devido a estas inúmeras falhas, recebe uma verdadeira avalanche
de críticas. Mas essas “críticas” vão além do descontentamento para com a
trama, e fica parecendo mera “birrinha”.
Isso fica claro, quando se compara a trama de Glória com a trama de João
Emanuel Carneiro. Na novela de JEC tudo deu certo, até as coisas erradas foram
ignoradas pelos fãs, que amavam a novela. Essas falhas, no caso de Salve Jorge
são consideradas absurdas e amadorismo por parte da autora. Em Avenida Brasil,
ignorar um mundo onde se há grandes avanços tecnológicos é considerado “licença
poética”. Em Salve Jorge, duas jovens que não tem coragem de denunciar a
quadrilha que lhe fizeram vítimas por medo, significa “subestimar a
inteligência do público”. Por isso, fica
nítida, certa má vontade com a atual novela das nove. O povo não gosta e ponto
final.
Em
minha opinião, Salve Jorge é sim repleta de falhas, mas em casos isolados,
apresenta momentos bons (não reconhecidos pela maioria). O Capítulo desta terça,
22/01/2013, por exemplo, em que ocorre toda a repercussão da morte da
personagem Jéssica (cena muito bem realizada), foi um capítulo muito bom, cheio
de momentos tensos, onde a protagonista deu tudo de si, e a vilã pode mostrar á
que veio. No entanto, o capítulo se encerrou com uma cena totalmente
dispensável, para não dizer tosca.
É
isso, Salve Jorge é uma novela que já começou toda errada, no momento errado, e
que apostou errado. Um tropeço na carreira de Glória Perez. Talvez, se a autora
abordasse de outra maneira o assunto, apostando mais no melhor do folhetim, sem
se prender tanto ao compromisso social de alertar sobre o crime de tráfico
humano, a novela rendesse mais. Mas o que se vê é que Salve Jorge, nada, nada e
nada, para no final morrer na praia. Mesmo que a audiência suba, acho difícil
reverter essa situação, infelizmente.
Eu não sigo a novela da Gloria, acompanho os comentários. Mas gostaria de corrigir uma informação em seu post. Vc diz que o tema do tráfico nunca foi abordado numa novela. Isso é meia verdade. Nunca foi abordado numa novela da Globo. Há 4 anos, em Poder Paralelo, de Lauro Cesar Muniz, na Record, nós tivemos uma subtrama envolvendo a criminosa internacional Layla (Luciana Braga) e uma jornalista que trabalhava com a heroína, Lígia (Miriam Freeland). A jornalista descobriu que Layla mandava mulheres para a Espanha, onde eram obrigadas a se prostituir. Antes que revelasse o crime, Layla matou a jornalista a sangue frio. Só pra constar. Abraços,
ResponderExcluirObrigado, não tinha idéia disso hehe, não consigo ver as novelas da record. Se não me engano, Belíssima tbm tocou no assunto, de forma mais leve, através da personagem de Maria Flor. Mas de forma assim, tão contundente é a primeira vez.
ResponderExcluirAbraços
Não concordo que haja má vontade por parte do público ao comparar Salve Jorge com Avenida Brasil. Isso pode ter acontecido no início, quando é normal o espectador sentir falta de sua novela, mas depois, a tendência é que ele vá se acostumando com a obra que está no ar. Se depois de três meses o espectador ainda fala mal de Salve Jorge, então a culpa é da novela atual, não da antiga. Avenida Brasil teve falhas, sim, aliás, me aponte uma novela que não tenha. Mas sua trama era mais bem conduzida, o autor conseguiu fazer com que a realidade absurda de sua trama fosse crível. Gloria não conseguiu com a dela. Simples assim. Não é difícil de acreditar que vítimas do tráfico humano tenham medo de denunciar, pelo contrário. O difícil é acreditar que Morena tenha esse medo, já que na Turquia ela era super corajosa. Lá ela enfrentou a gangue inteira, e chegou ao Brasil acuada. Quando foi que o perfil da personagem mudou? É isso que é difícil de engolir. Assim como é difícil de engolir que um oficial do exército desconheça o assunto. Qualquer pessoa tem o direito de desconhecer, menos um militar. É absurdo! Morena tem ao seu lado, além de um militar desinformado, uma delegada. Ou seja, caso ela denunciasse, seria cercada de toda a proteção. Então, neste caso, Gloria mais uma vez a conduziu mal. Deveria então ter criado outra profissão pro protagonista, e mantido a Helô longe dela. Ninguém, em sã consciência, teria medo de falar sobre o problema pros próximos, mas iria denunciar pra desconhecidos. Agora até a amiga de Morena, Sheila, já sabe, menos quem deveria saber. Esse medo seletivo da Morena que não faz sentido. Gloria errou. E a culpa não é de Avenida Brasil. É dela mesmo.
ResponderExcluirAndré San - www.tele-visao.zip.net
Bom André, cada um tem seu ponto de vista e respeito o seu. Não estou responsabilizando Avenida Brasil pelos erros de Salve Jorge, muito menos ignorando as falhas desta, nem gosto da novela. É real uma jovem ter medo de denunciar, por mais que ela tenha uma delegada próxima, não é a toa que ao tentar se aproximar, a delegada acabou sofrendo um atentado, sem falar que ela é constantemente ameaçada, está de mão atadas. na Turquia ela era corajosa sim, mas a partir do momento em que viu que o filho poderia correr riscos, quando júnior sumiu e ela achou que tinham sido eles, ela recuou. E aqui no Brasil, o perigo de fazerem algo com a mãe, com a tia e o filho é maior, Ruço está dentro de sua casa, e ainda assim ela não deixou de ser tão corajosa, afinal chegou a procurar a delegada, e contou tudo a Lívia marine (Porque para ela, Lívia combate este tipo de crime)Não acho que por fazer parte do exercito, Théo deve obrigatoriamente conhecer este tipo de crime, até por que tráfico humano é conhecido por "crime invisível", e um capitão do exercito não tem nenhum envolvimento neste tipo de investigação sigilosa, apenas cumpre sua missão de defender seu País, se ainda fosse um Coronel ou general. Digo isso porque passei pelo serviço militar obrigatório, convivi com um Sub-Tenente e por mais inteligente que ele seja, posso jurar que ele desconhece este tipo de crime rs. Ainda acho que existe sim má vontade com a novela, a morte de Jéssica por exemplo, foi uma cena muito bem realizada, ignorando o conjunto, mas ainda assim disseram que foi patética, a pior cena já feita, tiraram sarro com a questão da seringa e enfim. Não gosto de Salve Jorge, a novela é cheia de erros, mas acho bacana reconhecer os poucos acertos que tem. Sobre Avenida Brasil, a novela foi MA-RA-VI-LHO-SA, e Jec realmente soube mascarar as falhas, mas sinceramente acho pior ignorar as tecnologias que temos hoje como se elas simplesmente não existissem, do que uma jovem traficada ter medo de denunciar a quadrilha que a traficou por medo. Abraço
ResponderExcluirSou um dos poucos defensores ferrenhos, até o momento, de “Salve Jorge”. Comparando com “América” e “Caminho das Índias”, outros trabalhos recentes da autora, “Salve Jorge” ganha na minha preferência. Acredito que a repercussão negativa em torno da novela, deve-se ao fato de que essa não é uma novela que o público esteja a fim de assistir nesse momento. Isso acontece. Mas não é uma novela ruim.
ResponderExcluirO tema, embora seja importante, não é um tema que as pessoas desejam discutir. A Nanda Costa não é uma atriz que tenha galgado os caminhos tradicionais rumo ao posto de protagonista de novela das 21h, as maldades da Lívia e sua turma não são engraçadas tampouco aceitas socialmente, de modo que a Glória não investe na “glaumorização” dos vilões como foi feito pelos autores nos últimos tempos, os personagens (ao contrário do que se prega) não são estereotipados e demasiadamente românticos para os tempos atuais de pegação(rsrs). Acho que são alguns motivos que ainda não li ninguém comentar sobre a possível rejeição à novela. “Salve Jorge” é uma novela, que apesar dos momentos de bom humor, soa pesada, crítica e foge totalmente a certos estereótipos construídos nos últimos anos, ao contrário do que se diz.
ResponderExcluirSou uma pessoa que não tem por hábito ver novelas; Salve Jorge veio com um tema que infelizmente é pouquíssimo abordado e divulgado. Não perco um só capítulo, tendo em vista ser o tema que defendi no meu TCC, quando me formei em Direito. Estudei muito para montar meu trabalho e queria ver como seria abordado o assunto. De acordo com toda a bibliografia que me foi enviada pela ONU, a autora se mantém fiel em todos os pontos. Querer fugir da nova forma de escravidão (sexual) é óbvio, já que nenhuma pessoa quer ser privada de sua liberdade. Escolher ser prostituta é uma coisa, mas ser obrigada a isso, é outra bem diferente. Depois de liberta, o medo é natural pois as familias se encontram envolvidas. As máfias tem controle de todos os passos dos familiares e vir a cometer qq tipo de atrocidade contra eles como represália é "normal", forma essa de manterem sua rede protegida.
ResponderExcluirEm minha humilde opinião, vejo 3 grandes falhas: a Helô sendo delegada, nunca ter escutado falar em tráfico humano; admitirem a hipótese de usar uma civil como "isca" e as "escravas" estarem desde o inicio da novela num mesmo cativeiro, já que é sabido que as máfias fazem rodízio das mesmas para terem sempre "carne nova" para expor.
Admiro a iniciativa de tentarem divulgar esse problema que está cada vez mais sendo utilizado como forma de "comércio". Sinto apenas que nosso governo, que possui trabalhos magníficos em relação a prevenção, não divulgar e alertar mais a população sobre o assunto.
Talves essa falta de informação é que faça com que o público não se sinta atraído pela novela; a maior parte das pessoas imagina que seja uma forma fantasiosa de mostrar que prostitutas vão para o exterior querendo ganhar dinheiro fácil, ignorando a realidade que muitas delas enfrentam. Abração. Rita Martinatto Gay, cidade de Rio Grande - RS