Por Raul Felipe Senger
Olá meus queridos leitores, hoje vou fazer algo diferente. Bom, eu nas minhas tantas leituras, acabei encontrando um conto que me chamou a atenção e que me deixou sem reação quando cheguei ao final. É um conto de Paulo Corrêa Lopes (1898- 1957), escritor gaúcho, foi sobretudo poeta, já que não escreveu mais do que quatro ou cinco contos. Um deles, publicado no livro "Os cem melhores contos de humor da literatura universal", foi destacado pela crítica.
Enfim, espero que gostem. É um conto que surpreende e com um final que vai deixar todo mundo de boquiaberta, assim como eu fiquei. De Paulo Corrêa Lopes...
Um Caso Estranho
Não sei se no momento eu contemplava as águas da enchente ou se pensava em outras épocas, quando uma boca com dentes de ouro me interrompeu:
- Tenho ordem de prendê-lo como envolvido no crime da mala.
-Que mala? Indaguei ainda surpreso, como alguém que acabasse de descer de Marte ou de alguma região qualquer.
- Siga-me que na delegacia tudo será esclarecido.
Diante do tom autoritário com que a boca com dentes de ouro me falava, resolvi seguir o investigador. Atravessamos uma rua deserta, cruzamos uma praça cheia de crianças brincando, desembocamos num largo e por fim entramos num prédio baixo com aspecto de casa e comércio.
Quando menos esperava, fui empurrado para dentro de uma sala escura onde o delegado de plantão me recebeu com ar teatral:
- Então! Custou mas caiu nas mãos da justiça! Ninguém escapa da Lei! Confesse, que a única coisa inteligente que tem a fazer!
A princípio achei graça em tudo aquilo. Pensei mesmo que estava sendo vítima de uma brincadeira de mau gosto. Depois, diante da insistência do delegado, comecei a suar frio. Que sabia eu do crime da mala? É bem possível que alguém, parecido comigo, tivesse cometido o crime pelo me acusavam. Há tanta gente parecida no mundo. Ainda há tempos encontrei no bonde um cidadão tão parecido com Henry Fonda que fiquei abismado. Tinha até o jeito de sorrir do simpático artista. Por um pouco não chamei a atenção do cavalheiro para o fato. O próprio delegado, que me interrogava, tinha qualquer coisa se semelhante com o investigador que me havia dado voz de prisão. O verdadeiro culpado talvez se parecesse comigo. Não encontrava outra explicação para tudo aquilo. De súbito fui despertado pela boca com dentes de ouro, que me disse:
- Acompanhe- me.
Segui como um autômato o investigador, que me fechou numa sala tão baixa que tive que me curvar para não bater com a cabeça no teto. Justamente no momento em que me curvei, dei com um morto estendido dentro de uma mala meia aberta. Recuei e fiz grande esforço para não gritar. O morto parece que acusava como os olhos parados, com seus olhos que vinham de um outro mundo. Tive a impressão de que estava sendo vítima de uma alucinação. Os olhos do morto parece que se dilatavam cada vem mais.
Dominei-me a custo e debrucei-me sobre o morto para examinar melhor a sua fisionomia e não pude conter um grito: o morto era eu. Era eu que estava dentro da mala meio aberta...
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